O CUIDADO PRECOCE É ESSENCIAL PARA A SAÚDE DO CAVALO ATLETA
ODONTOLOGIA eqüina moderna visa
o equilíbrio das diferentes partes da boca com o objetivo de se restabelecer a
função mastigatória plena.
A dentição do cavalo moderno é
complexa, e evoluiu por milhões de anos para permitir a preensão e mastigação
efetivas dos materiais herbáceos fibrosos incluídos na sua dieta. O ser humano
domesticou estes animais, mudou os seus hábitos alimentares conforme sua
própria conveniência, e os utiliza para trabalho e lazer, além disso, os
cavalos de performance são domados e iniciam a vida atlética muito jovens.
No mundo inteiro ela está sendo
cada vez mais difundida, através de seminários e palestras que veterinários
pioneiros ministram com o objetivo de alertar os colegas sobre a vital
importância da odontologia na saúde dos eqüinos, assim como suas conseqüencias
no desempenho atlético dos mesmos. As dificuldades na prática do exame oral
associadas ao treinamento deficiente resultam, na maioria das vezes, em
diagnóstico no mínimo incompleto.
Por quê é importante tratar dos dentes dos cavalos?
O principal motivo é a saúde, e depois o desempenho atlético, que
acaba sendo conseqüência do tratamento. (Mastigação adequada, conseguida
através dos tratamentos odontológicos são essenciais). O cavalo tratado, com
boa oclusão (fechamento da boca), livre de feridas ou infecções na boca
obviamente mastigará com eficiência, triturando o alimento oferecido
adequadamente, aproveitando ao máximo os nutrientes, mantendo-se em boa
condição física, com menores probabilidades da ocorrência de cólicas, e
trabalhando melhor com o ginete, pois está mais confortável com a embocadura e
tende a colaborar plenamente com os comandos na boca.
Na verdade, imagine você sem tratamento odontológico. A sua
qualidade de vida seria a mesma? A diferença é que os cavalos não reclamam!
Tratamentos odontológicos são ao mesmo tempo preventivos e
curativos. Explico:
Quando
está-se tratando da boca de um cavalo, eliminamos os problemas encontrados e
prevenimos outros de ocorrerem. Por exemplo, quando eliminamos pontas
dentárias, ou qualquer formação que possa provocar feridas nas bochechas ou na
língua, ao mesmo tempo, evitamos que a dor causada pelas mesmas provoquem
distúrbios no ciclo mastigatório.
Quando devem ser realizados os exames odontológicos?
O primeiro exame deve ser realizado logo no nascimento, pois
desordens como braquignatismo, prognatismo e fendas palatinas podem ser
prontamente observadas e tratadas de acordo. Em potros de até 5 anos, o ideal é
um exame a cada 6 meses, pois não é raro encontrar casos de dentes decíduos
persistentes, fragmentos que devem ser extraídos, e oclusão anormal causada
pela erupção desequilibrada dos dentes. Dificilmente se encontram problemas
graves de oclusão em potros novos, mas observa-se formações pontiagudas, e
deformações nas arcadas dos dentes molares e incisivos com frequência em
animais com mais de 6 anos, em diversos graus. Essa observação demonstra que o
cuidado precoce é essencial.
Em cavalos adultos, o exame deve ser repetido anualmente, se não
houver indicação para exames mais regulares.
(O exame da cavidade oral é facilmente realizado através do uso de
um espéculo, uma lanterna e uma seringa de 400 ml para a limpeza da cavidade
oral. O exame deve incluir tanto a visualização como a palpação das estruturas
da boca, mas a avaliação da oclusão só será precisa com a utilização de
sedativos ou tranqüilizantes.
A utilização do espéculo, possibilita um exame mais preciso e
seguro da cavidade oral. Na maior parte das vezes, a sedação não é necessária
para a palpação e visualização.)
Afinal, quantos dentes têm os cavalos?
O cavalo
adulto normal pode possuir de 36 a 44 dentes. Segundo um dos especialistas
americanos em odontologia eqüina, os cavalos Puro Sangue Lusitano e de Pura
Raça Espanhola podem apresentar 1 molar a mais por fileira. Normalmente o que
encontramos no exame oral são 12 dentes incisivos, que são os da frente,
facilmente observados, 12 pré-molares, 12 molares, 4 dentes caninos nos machos,
e de 0 a 4 dentes do lobo, que na verdade são os primeiros pré-molares, os primeiros
pré-molares (PM1). As fêmeas podem apresentar caninos, porém estes são
pequenos, rudimentares, e mais freqüentemente encontrados na mandíbula.
ESTRUTURA E FUNÇÃO DO DENTE
Os eqüinos
possuem dentes classificados como hipsodontes, o que
significa coroa longa. O cavalo possui dentes incisivos e molares com uma raiz
relativamente pequena e coroa grande, sendo que apenas parte da mesma se
encontra exposta. A porção interna da coroa é chamada de coroa de reserva.
Esses dentes erupcionam
durante toda a vida para compensar o desgaste causado pelos
alimentos contidos na sua dieta. A coroa não cresce continuamente como nos
roedores, apenas erupciona constantemente.
As arcadas dentárias maxilares são ligeiramente curvas, ao
contrário das mandibulares que são retas. Isso causa uma sobreposição de dentes
onde parte dos dentes molares superiores e parte dos dentes inferiores ficam
fora de contato, o que explica a formação de pontas dentárias na face oclusal
lingual dos dentes inferiores e na face oclusal vestibular dos dentes
superiores.
MASTIGAÇÃO
Os dentes incisivos com suas superfícies oclusais (mesa dentária)
planas e mordida em torquês têm como função a preensão dos alimentos. Os
molares, com superfícies irregulares trituram os alimentos através da excursão
lateral da mandíbula, movimento permitido pelas articulações têmporomandibulares do
cavalo e pela angulação de cerca de 15° das arcadas maxilares e mandibulares.
O alimento é empurrado para as partes mais caudais da boca através
das cristas palatinas desenhadas para direcionar o alimento para os dentes
molares, e de movimentos da língua. Durante o processo da mastigação, o
alimento é pressionado entre as arcadas e a mandíbula se movimenta vertical e
lateralmente. Há diversos grupos musculares envolvidos na mastigação dos
eqüinos, e problemas nestes podem acarretar graves distúrbios na mastigação.
Os dentes caninos e os dentes do lobo não possuem função efetiva
na mastigação.
Quais são os SINAIS CLÍNICOS?
Mastigação
deficiente, derruba alimento, mastiga com movimentos predominantemente
verticais (abre e fecha boca): lacerações ou ulcerações na cavidade bucal;
Disfagia; Descarga nasal; Condição física pobre; Impactação ou diarréias
crônicas; Halitose; Aumentos de volume na face; Problemas na performance
(reação à embocadura, falta de apoio, balançar a cabeça e outros); Fístulas
faciais; Obstrução nasal; Hemorragia bucal
Quais são os PROBLEMAS MAIS COMUNS?
O que
observei, nestes 7 anos tratando cavalos Lusitanos, é que os problemas mais
comuns são pontas dentárias, rampas, dentes do lobo e feridas (úlceras) na
cavidade bucal. Os dentes do lobo são conhecidos de veterinários e ginetes,
pois podem interferir no trabalho. Os maiores dentes do lobo que já encontrei
foram em cavalos Lusitanos. Há inclusive algumas observações interessantes, por
exemplo, cavalos de linhagem Veiga parecem apresentar dentes do lobo mais
freqüentemente que cavalos de linhagem Andrade. Há uma implicação genética
evidente nesta raça, e as diferentes características das linhagens podem se
estender até para a área odontológica.
De modo
geral, dentre as diferentes raças, o que se nota mais comumente são:
Formações
pontiagudas, como pontas de
esmalte, bicos ou ganchos (pontas geralmente encontradas nas superfícies
oclusais dos dentes P2 e M3.
Lacerações
nas bochechas causadas por pontas
dentárias.
Maloclusão
dos dentes molares,
como rampas, degraus, e arcadas onduladas.
Maloclusão
dos dentes incisivos,
como curvatura ventral, dorsal e mordedura em diagonal, e estão geralmente
associadas à má oclusão dos molares.
Dentes do
lobo, que podem interferir
com a embocadura.
Cálculos.
Anormalidades
no erupção dos dentes, que podem causar posteriores deformidades nas arcadas, falha no
deslocamento de dentes decíduos e retenção de fragmentos dos mesmos.
Faturas, quando observadas, encontram-se geralmente nos
dentes incisivos, e nos M1, e M2.
ACHADOS MENOS COMUNS
-Anodontia
-Dentes
supranumerários
-Braquignatismo
-Prognatismo
-Doença
Periodontal
-Cáries
-Lacerações
na língua
-Tumores
-Campylorrhinus
Lateralis (wry nose)
-Disgenesia
dentária
-Processos
degenerativos da ATM
Como são os TRATAMENTOS ODONTOLÓGICOS realizados?
Os tratamentos podem variar muito, dependendo do caso clínico,
indo desde o grosamento das pontas de esmalte, extrações dentárias e colocação
de aparelho móvel (plano horizontal) ou fixo (procedimento cirúrgico com fios
de aço, acrílico e placas de metal) para correção da oclusão. Como rotina, o
grosamento das pontas de esmalte, o ajuste da oclusão e a extração do P1 e de
dentes decíduos são os tratamentos mais comuns realizados, não sendo incomum,
porém, a observação de fraturas nos dentes, com poucos casos de envolvimento de
doença periodontal e abscessos periapicais.
Como os dentes dos eqüinos estão em constante erupção, a
manutenção dos tratamentos que envolvem desordens de desgaste e ou erupção deve
ser realizada conforme a gravidade da situação, a cada 6 meses ou anualmente.
Os exames complementares mais comumente requisitados são os
radiológicos, e os endoscópicos, principalmente nos casos de sinusites,
fraturas severas e disgenesias e agenesias dentárias.
ASPECTOS IMPORTANTES
Há basicamente dois aspectos importantes sobre a prática da
Odontologia e Ortodontia em Eqüinios.
1) Saúde: Distúrbios da alimentação podem estar diretamente
relacionados com a qualidade dos movimentos mastigatórios. Animais que têm
dificuldade em ganhar peso, apresentam desconforto abdominal periódico,
diarréia crônica, se alimentam de forma considerada anormal e necessitam
constantemente de suplementos vitamínicos devem ser examinados.
2) Performance: Animais que reagem à embocadura, que têm
dificuldade em flexionar o pescoço ou que apresentam dificuldade em certas
manobras sob comando de rédeas devem ser examinados.
Muitas vezes o tratamento é relativamente simples, e apresenta
resultado imediato, porém há necessidade de material e treinamento veterinário
adequados.
Carla Michel Omura,
M. V. CRMV SP 8224.
Formada em 1994, trabalhou durante um ano em meio nos EUA com
odontologia eqüina, está no Brasil trabalhando nesta área e com cavalos
Lusitanos desde 1995. Atende no Brasil em vários estados expandindo seu
trabalho pela América do Sul, iniciando pela Venezuela em 2001.