sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Odontologia Equina

                             

            O CUIDADO PRECOCE É ESSENCIAL PARA A SAÚDE DO CAVALO ATLETA






ODONTOLOGIA eqüina moderna visa o equilíbrio das diferentes partes da boca com o objetivo de se restabelecer a função mastigatória plena.
A dentição do cavalo moderno é complexa, e evoluiu por milhões de anos para permitir a preensão e mastigação efetivas dos materiais herbáceos fibrosos incluídos na sua dieta. O ser humano domesticou estes animais, mudou os seus hábitos alimentares conforme sua própria conveniência, e os utiliza para trabalho e lazer, além disso, os cavalos de performance são domados e iniciam a vida atlética muito jovens. 
No mundo inteiro ela está sendo cada vez mais difundida, através de seminários e palestras que veterinários pioneiros ministram com o objetivo de alertar os colegas sobre a vital importância da odontologia na saúde dos eqüinos, assim como suas conseqüencias no desempenho atlético dos mesmos. As dificuldades na prática do exame oral associadas ao treinamento deficiente resultam, na maioria das vezes, em diagnóstico no mínimo incompleto.



Por quê é importante tratar dos dentes dos cavalos?


O principal motivo é a saúde, e depois o desempenho atlético, que acaba sendo conseqüência do tratamento. (Mastigação adequada, conseguida através dos tratamentos odontológicos são essenciais). O cavalo tratado, com boa oclusão (fechamento da boca), livre de feridas ou infecções na boca obviamente mastigará com eficiência, triturando o alimento oferecido adequadamente, aproveitando ao máximo os nutrientes, mantendo-se em boa condição física, com menores probabilidades da ocorrência de cólicas, e trabalhando melhor com o ginete, pois está mais confortável com a embocadura e tende a colaborar plenamente com os comandos na boca.
Na verdade, imagine você sem tratamento odontológico. A sua qualidade de vida seria a mesma? A diferença é que os cavalos não reclamam! 
Tratamentos odontológicos são ao mesmo tempo preventivos e curativos. Explico:
Quando está-se tratando da boca de um cavalo, eliminamos os problemas encontrados e prevenimos outros de ocorrerem. Por exemplo, quando eliminamos pontas dentárias, ou qualquer formação que possa provocar feridas nas bochechas ou na língua, ao mesmo tempo, evitamos que a dor causada pelas mesmas provoquem distúrbios no ciclo mastigatório. 




Quando devem ser realizados os exames odontológicos?



O primeiro exame deve ser realizado logo no nascimento, pois desordens como braquignatismo, prognatismo e fendas palatinas podem ser prontamente observadas e tratadas de acordo. Em potros de até 5 anos, o ideal é um exame a cada 6 meses, pois não é raro encontrar casos de dentes decíduos persistentes, fragmentos que devem ser extraídos, e oclusão anormal causada pela erupção desequilibrada dos dentes. Dificilmente se encontram problemas graves de oclusão em potros novos, mas observa-se formações pontiagudas, e deformações nas arcadas dos dentes molares e incisivos com frequência em animais com mais de 6 anos, em diversos graus. Essa observação demonstra que o cuidado precoce é essencial.
Em cavalos adultos, o exame deve ser repetido anualmente, se não houver indicação para exames mais regulares. 
(O exame da cavidade oral é facilmente realizado através do uso de um espéculo, uma lanterna e uma seringa de 400 ml para a limpeza da cavidade oral. O exame deve incluir tanto a visualização como a palpação das estruturas da boca, mas a avaliação da oclusão só será precisa com a utilização de sedativos ou tranqüilizantes.
A utilização do espéculo, possibilita um exame mais preciso e seguro da cavidade oral. Na maior parte das vezes, a sedação não é necessária para a palpação e visualização.)


Afinal, quantos dentes têm os cavalos?



O cavalo adulto normal pode possuir de 36 a 44 dentes. Segundo um dos especialistas americanos em odontologia eqüina, os cavalos Puro Sangue Lusitano e de Pura Raça Espanhola podem apresentar 1 molar a mais por fileira. Normalmente o que encontramos no exame oral são 12 dentes incisivos, que são os da frente, facilmente observados, 12 pré-molares, 12 molares, 4 dentes caninos nos machos, e de 0 a 4 dentes do lobo, que na verdade são os primeiros pré-molares, os primeiros pré-molares (PM1). As fêmeas podem apresentar caninos, porém estes são pequenos, rudimentares, e mais freqüentemente encontrados na mandíbula.




ESTRUTURA E FUNÇÃO DO DENTE



Os eqüinos possuem dentes classificados como hipsodontes, o que significa coroa longa. O cavalo possui dentes incisivos e molares com uma raiz relativamente pequena e coroa grande, sendo que apenas parte da mesma se encontra exposta. A porção interna da coroa é chamada de coroa de reserva. Esses dentes erupcionam durante toda a vida para compensar o desgaste causado pelos alimentos contidos na sua dieta. A coroa não cresce continuamente como nos roedores, apenas erupciona constantemente.
As arcadas dentárias maxilares são ligeiramente curvas, ao contrário das mandibulares que são retas. Isso causa uma sobreposição de dentes onde parte dos dentes molares superiores e parte dos dentes inferiores ficam fora de contato, o que explica a formação de pontas dentárias na face oclusal lingual dos dentes inferiores e na face oclusal vestibular dos dentes superiores. 


MASTIGAÇÃO



Os dentes incisivos com suas superfícies oclusais (mesa dentária) planas e mordida em torquês têm como função a preensão dos alimentos. Os molares, com superfícies irregulares trituram os alimentos através da excursão lateral da mandíbula, movimento permitido pelas articulações têmporomandibulares do cavalo e pela angulação de cerca de 15° das arcadas maxilares e mandibulares.
O alimento é empurrado para as partes mais caudais da boca através das cristas palatinas desenhadas para direcionar o alimento para os dentes molares, e de movimentos da língua. Durante o processo da mastigação, o alimento é pressionado entre as arcadas e a mandíbula se movimenta vertical e lateralmente. Há diversos grupos musculares envolvidos na mastigação dos eqüinos, e problemas nestes podem acarretar graves distúrbios na mastigação.
Os dentes caninos e os dentes do lobo não possuem função efetiva na mastigação.


Quais são os SINAIS CLÍNICOS?



Mastigação deficiente, derruba alimento, mastiga com movimentos predominantemente verticais (abre e fecha boca): lacerações ou ulcerações na cavidade bucal; Disfagia; Descarga nasal; Condição física pobre; Impactação ou diarréias crônicas; Halitose; Aumentos de volume na face; Problemas na performance (reação à embocadura, falta de apoio, balançar a cabeça e outros); Fístulas faciais; Obstrução nasal; Hemorragia bucal




Quais são os PROBLEMAS MAIS COMUNS?



O que observei, nestes 7 anos tratando cavalos Lusitanos, é que os problemas mais comuns são pontas dentárias, rampas, dentes do lobo e feridas (úlceras) na cavidade bucal. Os dentes do lobo são conhecidos de veterinários e ginetes, pois podem interferir no trabalho. Os maiores dentes do lobo que já encontrei foram em cavalos Lusitanos. Há inclusive algumas observações interessantes, por exemplo, cavalos de linhagem Veiga parecem apresentar dentes do lobo mais freqüentemente que cavalos de linhagem Andrade. Há uma implicação genética evidente nesta raça, e as diferentes características das linhagens podem se estender até para a área odontológica.
De modo geral, dentre as diferentes raças, o que se nota mais comumente são:


Formações pontiagudas, como pontas de esmalte, bicos ou ganchos (pontas geralmente encontradas nas superfícies oclusais dos dentes P2 e M3.
Lacerações nas bochechas causadas por pontas dentárias.
Maloclusão dos dentes molares, como rampas, degraus, e arcadas onduladas.
Maloclusão dos dentes incisivos, como curvatura ventral, dorsal e mordedura em diagonal, e estão geralmente associadas à má oclusão dos molares.
Dentes do lobo, que podem interferir com a embocadura.
Cálculos.
Anormalidades no erupção dos dentes, que podem causar posteriores deformidades nas arcadas, falha no deslocamento de dentes decíduos e retenção de fragmentos dos mesmos.
Faturas, quando observadas, encontram-se geralmente nos dentes incisivos, e nos M1, e M2.


ACHADOS MENOS COMUNS



-Anodontia
-Dentes supranumerários
-Braquignatismo
-Prognatismo
-Doença Periodontal
-Cáries
-Lacerações na língua
-Tumores
-Campylorrhinus Lateralis (wry nose)
-Disgenesia dentária
-Processos degenerativos da ATM




Como são os TRATAMENTOS ODONTOLÓGICOS realizados?


Os tratamentos podem variar muito, dependendo do caso clínico, indo desde o grosamento das pontas de esmalte, extrações dentárias e colocação de aparelho móvel (plano horizontal) ou fixo (procedimento cirúrgico com fios de aço, acrílico e placas de metal) para correção da oclusão. Como rotina, o grosamento das pontas de esmalte, o ajuste da oclusão e a extração do P1 e de dentes decíduos são os tratamentos mais comuns realizados, não sendo incomum, porém, a observação de fraturas nos dentes, com poucos casos de envolvimento de doença periodontal e abscessos periapicais.
Como os dentes dos eqüinos estão em constante erupção, a manutenção dos tratamentos que envolvem desordens de desgaste e ou erupção deve ser realizada conforme a gravidade da situação, a cada 6 meses ou anualmente.
Os exames complementares mais comumente requisitados são os radiológicos, e os endoscópicos, principalmente nos casos de sinusites, fraturas severas e disgenesias e agenesias dentárias.


ASPECTOS IMPORTANTES



Há basicamente dois aspectos importantes sobre a prática da Odontologia e Ortodontia em Eqüinios. 

1) Saúde: Distúrbios da alimentação podem estar diretamente relacionados com a qualidade dos movimentos mastigatórios. Animais que têm dificuldade em ganhar peso, apresentam desconforto abdominal periódico, diarréia crônica, se alimentam de forma considerada anormal e necessitam constantemente de suplementos vitamínicos devem ser examinados.

2) Performance: Animais que reagem à embocadura, que têm dificuldade em flexionar o pescoço ou que apresentam dificuldade em certas manobras sob comando de rédeas devem ser examinados. 
Muitas vezes o tratamento é relativamente simples, e apresenta resultado imediato, porém há necessidade de material e treinamento veterinário adequados.



Carla Michel Omura,
M. V. CRMV SP 8224.

Formada em 1994, trabalhou durante um ano em meio nos EUA com odontologia eqüina, está no Brasil trabalhando nesta área e com cavalos Lusitanos desde 1995. Atende no Brasil em vários estados expandindo seu trabalho pela América do Sul, iniciando pela Venezuela em 2001.