segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Origem do Cavalo Lusitano (Parte1)


Os cavalos retornariam ao seu lugar de origem muito tempo mais tarde, como instrumento de denominação dos povos da Península Ibérica no continente americano. Cristóvão Colombo, o descobridor, os introduziu na ilha de São Domingos em 1493. Espalharam-se primeiro pelas regiões que deram origem a Porto Rico e Jamaica, na América Central; desceram depois em direção à América do Sul, pelos territórios que mais tarde formariam o Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Chile e Bolívia. No México, chegaram transportados pelas tropas de Hernán Cortez, em 1519. Estes tomaram o rumo da costa oeste dos Estados Unidos, onde mais tarde dariam origem aos célebres mustangs norte-americanos.

Quatro décadas mais tarde, no extremo sul do continente, o espanhol Don Pedro de Mendoza logo fundaria Buenos Aires, mas na luta contra os índios perdeu exatos 76 cavalos. Em liberdade, voltaram a seu estado selvagem e primitivo, reproduzindo-se de forma espontânea. Algumas décadas depois, multiplicavam-se em extensas manadas que se espalharam dos pampas argentinos aos campos da Província Oriental, povoando as regiões remotas onde se formou o estado do Rio Grande do Sul. Começava a ser delineada a história do cavalo no Brasil.

"O cavalo do sol é um garanhão amarelo,
Um garanhão azul, um garanhão negro;
 O cavalo do sol veio até nós."

Os ancestrais de todas as raças brasileiras eram exatamente belos e velozes. Pertenciam todos a raça Andaluzia, originária da própria Península Ibérica, capaz de produzir um animal que Aristóteles, ainda em 384 antes de Cristo, chamou de "filho do vento". Cabeça pequena, orelhas também pequenas e bem postas, olhos grandes e doces, pescoço altivo, crina e cauda abundantes, o Andaluz foi reconhecido até pelos franceses como o mais famoso, o mais nobre e gracioso, o mais valente e mais digno de ser montado por um rei. Sua origem remonta sua própria formação dos continentes europeus e africanos, quando um cataclismo geológico abriu o estreito de Gibraltar, separando fauna e flora da mesma espécie e homens da mesma raça. 

De um lado ficaram os Íberos, de estirpe Berber e Amascirga nômades, alguns oriundos também do Himalaia; do outro lado, os povos árabes. Ambos cultivaram cavalos de poucas e sutis diferenças. O Equus Cabalus Asiaticus, com suas seis lombares na coluna vertebral, deu origem ao cavalo árabe, enquanto o Equus Cavalus Africanus, com uma lombar a menos, iria gerar o cavalo bérbere e, por conseguinte, o Andaluz. A Guerra Santa empreendia pelos árabes no início do século VIII revelou-se extremamente positiva para a raça. O criador Enio Monte afirma que, durante os oitocentos anos de denominação na Península Ibérica (então chamada pelos invasores de Al Andaluz), "emires e califas chegaram a ser magníficas criações de cavalos na região de Andaluzia, estudando cruzamentos e selecionando escrupulosamente os reprodutores; legaram à posteridade uma das melhores raças de cavalo que se teve notícias e que influenciou praticamente todas as raças existentes na época: a raça Andaluza". Portanto sangue nobre corre nas veias das matrizes dos cavalos brasileiros, do sertanejo ao crioulo. 

Em 1546, enquanto Jesuítas portugueses e espanhóis capturavam nos campos os primeiros baguais do tropel de Mendoza (bagual: expressão gaúcha para designar o cavalo que se tornou selvagem), chegaram a Santa Catarina 20 dos 46 cavalos trazidos pelo colonizador Don Álvaro Nunes, conhecido como "Cabeça de Vaca", que conseguiram sobreviver ao acidentes da longa viagem. O cruzamento destes baguais com os animais de Don Álvaro Nunes originou um cavalo resistente e rústico, de crinas grossas e pescoço mediano, dorso curto e reto, pernas elásticas e cascos sólidos, que tornou o companheiro inseparável do homem dos pampas, tanto do lado argentino como do brasileiro --- o cavalo Crioulo. Foi esta nova raça que uniu os povos do rio Prata em torno do ideal comum da criação. Foi ela que serviu aos primeiros índios que entenderam a importância do cavalo como arma de guerra e dominação, os embaias-guaicurus. 

Em 1795, o rebanho dos índios cavaleiros era calculado pelos portugueses em 8 mil animais, e os domínios dos guaicurus, com sua diversas ramificações, se estendia de Assunção a Cuiabá.
Guerreiros célebres pela audácia e coragem, eram temidos pelos brancos e pelos outros índios. Tornaram-se imbatíveis com a ajuda do Crioulo.

Criado livre no campo, sem abrigo ou trato especial, o cavalo Crioulo tornou-se extremamente sadio e resistente a doenças impostas pela natureza. Com dois exemplares argentinos da raça, "Mancha" e "Galo", o suíço A.F Tschifferly desafiou a distância que separa Buenos Aires de Washington e, durante dois anos e meio, venceu 16 mil quilômetros de florestas e montanhas andinas de mais de 5 mil metros de altitude para chegar à capital americana com seus dois cavalos em bom estado. O feito de Tschifferly incluiu o Crioulo entre as raças mais fortes do mundo. 

A história de formação política e econômica do Rio Grande do Sul se fez na companhia destes animais. Sem o seu "pingo", o gaúcho dos pampas não é um homem completo, nem mesmo na sua forma de se comunicar: estão registradas no sul milhares de expressões populares que envolvem este companheiro de todas as horas. "Arma, mulher e cavalo, nada de emprestar", diz a sabedoria gaúcha. "Cria perto do olhar o cavalo do teu andar". 

Pesquisado por Ismael Gonçalves da Silva    

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