terça-feira, 5 de agosto de 2014

Cavalo Lusitano - Genética de Cor de Pelagem

Genética de Cor de Pelagem

Texto de Flávio Rafael Monteiro
Veterinário e criador de Puro Sangue Lusitano (Haras Imperial)


Genética

Não é fácil perceber os efeitos da herança genética. Muitas vezes notamos semelhanças de um filho em relação ao pai, a mãe ou até mesmo em relação aos avós. Para um criador, o conhecimento dos princípios básicos de genética é fundamental para que os acasalamentos escolhidos produzam melhoramento genético. Apesar de algumas características poderem ser alteradas no manejo, o conhecimento dos genes pode modificar a morfologia, caracterização racial, tamanho. Mecânica de movimentação, temperamento e cor da pelagem em futuras gerações.
Qualquer uma dessas características é determinada pelos genes presentes nos cromossomos de cada uma das células destes animais. Um cromossomo é uma longa sequência de DNA, que contém vários genes que serão responsáveis por funções específicas deste animal. O conjunto destes cromossomos é chamado de genoma e o dos cavalos (Equus Caballus) apresenta 32 pares ou 64 cromossomos em cada uma de suas células com excessão das células reprodutivas. Nestas células, o óvulo ou o espermatozoide, só existem 32 cromossomos. Com a fecundação, o ovo ou zigoto, a partir da qual se formará o novo potrinho(a), volta a contar novamente  com 64 cromossomos, metade do garanhão e a outra metade da égua.
Chamamos de genótipo o conjunto de genes de um animal. E de fenótipo as características externas que podemos visualizar. Animais de mesmo fenótipo podem apresentar genótipos diferentes e isso faz diferença em seus progênies. Os genes são apresentados por letras maiúsculas e/ou minúsculas. Caso sejam idênticas, o animal é chamado homozigoto. Se diferentes, heterezigoto para tal característica. As diferentes pelagens são manifestadas a partir de herança de dominância parcial onde cada gene responde por parte do fenótipo ou de dominância completa, onde apenas um gene, representado pela letra maiúscula, já determina o resultado.

Pelagens

No Puro Sangue Lusitano são encontradas as pelagens tordilha, preta, castanha, alazã, baia, baia amarela, palomina, isabel, argila e lobuna em suas mais diferentes denominações regionais. É interessante observar quem em gravuras antigas do puro sangue lusitano podem ser vistas animais de pelagem pampa, que apresentam para do corpo branco em meio a qualquer outra pelagem. No entanto, hoje não são mais registrados pelas associações. Já é possível serem feitos testes para detectar o genótipo de cor de pelagem dos cavalos. O uso destes testes aliado a inspeções mais meticulosas favorecerão a descoberta da existência de outras cores na raça. Que podem estar cobertas por genes dominantesou que podem ter sido sempre registradas de maneira errada.

Tordilhos


O cavalos de pelagem tordilha, como são chamados em Portugal, nascem com qualquer cor de pelagem. Com poucos dias já se nota mais facilmente alguns pelos brancos no corpo em especial em torno dos olhos. Com o passar do tempo, a pelagem de todo o corpo vai dando lugar a pelos brancos até que o animal se torne totalmente branco. Esse processo pode durar vários anos. O gene responsável pelo “tordilhamento” é o gene G. Este gene se manisfesta de maneira dominante, ou seja, se o cavalo recebeu apenas um G de qualquer um dos pais, este animal será tordilho. O Gene G é também dominante em relação a todos os outros genes. Portanto, cavalos GG ou Gg são tordilhos independente dos outros genes. Isto explica em parte a grande quantidade de cavalos tordilhos na raça. Cavalos gg serão ‘’coloridos’’ e sua cor dependerá da composição da composição dos demais genes. Nos primeiros dias de vida de um animal tordilho, podemos perceber qual seria sua cor de pelagem caso este gene G não se manifestasse. Pode-se imaginar que este gene, com o passar do tempo, ‘’encapa” de branco qualquer outra cor.Um cavalo homozigoto GG sempre produzirá filhos tordilhos, já que sempre transmitirá a estes o gene G. UM animal tordilho, sempre terá ao menos um dos seus pais tordilho de onde recebeu o gene G. Dois cavalos tordilhos podem ter filhos ‘’coloridos’’. Neste caso, os pais obrigatoriamente teriam que ser heterozigotos (Gg) e transmitir o g para estes filhos. A probabilidade disto acontecer é de 25%. Dois cavalos “coloridos” sempre terão filhos “coloridos”. Por ambos serem gg, espermatozoide e óvulo serão g e formarão apenas indivíduos gg. Cavalos tordilhos têm seu genótipo representado por G_, onde o traço representa a indiferença do segundo gene do par.

Cavalos tordilhos: G_
Cavalos ‘’coloridos’’: gg


Pretos, castanhos e alazões


As cores dos animais são causadas pela melanina. Nos cavalos temos duas formas desta: a eumelanina, responsável pela pigmentação preta e a feomelanina pela vermelha. O gene E age de maneira dominante sobre o gene e configura a presença de eumelanina, que ocasionará pelos pretos no animal. Os genes ee, bloqueiam a ação da eumelanina, e com a ação exclusiva da feomelanina estes cavalos apresentam todo o corpo com pelagem de pigmentação avermelhada. São chamadas de alazões. Podem ter suas tonalidades com as variações vermelho claro, vermelho vivo ou amarronzado, laranja ou fígado. E outros que apresentam crina e cauda mais claras que o corpo, chamados de alazões crinalvos, de crina lavada ou flaxen. Muitas vezes são confundidos com palominos.


O gene A é responsável pela distribuição do pigmento preto para as pelagens de crina, cauda e extremidades dos membros. É também dominante em relação ao seu alelo a. Nos cavalos alazões, não importa como o gene A estaria se manifestando, já que este é responsável apenas pela distribuição da pelagem preta.  Já os cavalos que apresentam ao menos um gene E e sejam homozigotos para a, têm pelagem preta que não é distribuída para as extremidades. Tem, portanto, esta coloração preta manifestando-se de maneira uniforme por todo o corpo e são chamados de pretos. Quando os cavalos têm como alelos pelo menos um gene E e um A , irão apresentar pigmento preto (E) que por sua vez será distribuído para as extremidades (A). O restante do corpo permanece de cor avermelhada, e estes animais são castanhos. Assim, como os alazões, podem ser variações de tonalidade. A identificação se cavalos castanhos são homozigotos ou heterozigoto para o gene A é muitas vezes possível apenas pelo fenótipo. Castanhos heterozigotos Aa normalmente apresentam marcações mais escuras pelo corpo, em especial na tábua do pescoço, em parte da cabeça e final do dorso. Quando esta marcaçãoé mais intensa, estes castanhos são popularmente conhecidos por zainos. Castanhos homozigotos AA costumam apresentar tonalidade de vermelho mais uniforme e claro pelo corpo.

Cavalos pretos: gg  E_aa
Cavalos castanhos: gg E_A
Cavalos alazões: gg ee_ _


Palominos, baios amarelos e isabéis

O gene Cr controla a saturação ou a diluição dos pigmentos das cores. Atua como dominância parcial já que o heterozigoto é diferente é diferente dos dois tipos de homozigotos. A partir das cores como alazão, castanho e preto, a presença de um gene Cr dará origem respectivamente a palominos, baios amarelos e pretos chocolate. A ausência do gene Cr, ou seja, um homozigoto crcr mantém o cavalo com sua cor base. Um gene Cr dilui a coloração avermelhada para uma tonalidade mais amarela, mas praticamente não modifica as tonalidades pretas. No caso dos alazões, que seriam vermelhos por completo, um gene Cr os transforma em palominos. Palominos, cremilhos ou baios amarilhos são denominações para cavalos que tem o corpo todo dourado ou amarelado e possuem crinas e caudas que podem variar de creme ao branco. No caso  dos baios como são usualmente chamados, a crina, a cauda e extremidades dos membros mantêm-se pretas já que apenas um gene Cr irá diluir apenas a coloração avermelhada do corpo, mas não a preta. Será um cavalo amarelo ou bronze com as extremidades pretas. Os baios amarelos têm como base os castanhos. Já os cavalos com base preta são ligeiramente afetados e na presença de um gene Cr, tornam-se mais amarronzados. Este cavalo, conhecido como preto chocolate, tem genótipo, e fenótipo diferente das demais cores mas normalmente é registrado apenas como preto ou mesmo devido a ação do Sol seja confundido com castanho. Com a presença de CrCr, há diluição tanto da pelagem vermelha, quanto da pelagem preta para uma coloração pérola. Além disso, há também mudança na cor dos olhos. Que são azuis e de suas mucosas que são róseas. Este cavalo é chamado Isabel. É comum alguns criadores chamaram isabéis todos os animais que apresentam os olhos azuis e as mucosas róseas. Na verdade, alguns destes animais são tordilhos, mas realmente é de difícil visualização a presença de apenas alguns pelos brancos meio a pelagem perolizada, principalmente quando o animal é jovem e ainda esta “tordilhando”. Isto só poderá ser confirmado pela genealogia, progênie ou teste laboratoriais. Podemos, ainda, dividir os isabeis em dois tipos: cremelos ou perlinos. Os cremelos têm ausência de eumelanina, ou seja, são ee e normalmente apresentam crinas e caudas mais claras que o corpo. Os perlinos têm ao menos um gene E e suas crinas e caudas são ligeiramente mais escuras do que o corpo.

Cavalos baios amarelos: gg E_A_Crcr
Cavalos palominos: gg ee_ _aa Crcr
Cavalos isabéis: gg_ _ _ _ CrCr

Baios, lobunos e argilas

Existe a coloração a qual chamamos de baia, mas que tem origem outro par de genes. Esta coloração é determinada pelo gene D. O gene D manifesta-se de maneira dominante, não importante se o cavalo apresenta um ou mais genes desde tipo para que se determine a sua coloração. A pelagem também sofre diluição, mas desta vez, tanto a pelagem preta como a vermelha. A cabeça e extremidades destes animais permanecem de coloração mais escura e há presença de risca de burro no dorso e zebrura nas patas. Esta era a coloração mais comum nos cavalos de Sorraia. Dependendo se a cor base for preta ou alazã são formados os ‘’lobunos’’ ou de cor ‘’cinza rato’’, no caso dos pretos diluídos e ‘’argila’’ no caso de alazões.


Cavalos baios: gg E_A_ crcr D_
Cavalos argilas: gg ee _ _ crcr D_




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